domingo, 13 de setembro de 2009

Sobre a resposta do Padre Fábio de Melo ao Gustavo do blog “Erguei-vos Senhor”.


Recentemente na entrevista ao Jô Soares, o Padre Fábio de Melo causou comoção por defender e propagar ensinamentos heterodoxos e contrários a doutrina da Igreja Católica.

Diversos sites e blogs Católicos se alvoroçaram espantados com a atitude do sacerdote em cadeia nacional. Até mesmo sites mais modernistas se espantaram com as respostas do Padre.

O Gustavo Souza do blog “Erguei-vos Senhor” escreveu uma carta endereçada ao Padre, bastante amena, mas cobrando respostas aos comentários dados no programa do Jô.
Agora após 40 dias (penitência?) a resposta veio, mas como era de se esperar trouxe mais problemas do que solução. Seguidores do padre gritando vitória pela resposta agridem tanto o Gustavo que infelizmente perdeu as redeas do próprio blog, quanto qualquer outro que visite o blog e não seja partidário da opinião pessoal do Padre sobre teologia.
Já que o Gustavo não pretende fazer uma tréplica, resolvi comentar as respostas do Padre, para que não fique parecendo que a doutrina de Fábio de Melo é a mesma da Igreja e também para que seus seguidores não fiquem cantando vitória de forma ridícula e irresponsável.
As respostas do padre aparentam uma supervalorização de escritores de literatura ou de livros com temas diversos em detrimento de documentos da Igreja. Faz uma defesa perigosa do evolucionismo tentando compatibilizá-lo com o criacionismo. Percebe-se nas respostas uma simpatia estreita do padre pela Teologia da Libertação e suas visões antropocêntricas, simpatia por Frei Betto (Aquele mesmo que insulta o Santo Padre em cada texto que escreve) e também uma visão emocional da religião beirando o movimento Hippie.
Carta do padre em resposta ao Gustavo. As questões do Gustavo em negrito, as do Padre em itálico e as minhas em azul.
“Caríssimos todos, eis a esperada resposta do Pe. Fábio. Ele é um homem de palavra: prometeu que responderia, e cumpriu. Eu, por minha parte, também lhe prometi que não havia tréplica. E não haverá.
Querido Gustavo, Respondo, finalmente, as questões que me foram apresentadas por você. Se puder, publique a resposta em seu blog. Resolvi recortar as questões e respondê-las uma a uma.” “Uma das suas primeiras assertivas, que a mim causou muito espanto e preocupação, foi a de que “precisamos nos despir dessa arrogância de que nós somos proprietários da verdade suprema”. De fato, “donos” da verdade nós não somos. Mas nós a conhecemos! A Verdade é Cristo, e não há outra”. “ Gustavo, a Teologia nos ensina que a Plentiude da Revelação é Cristo, mas esta plenitude não significa esgotamento da verdade. Os desdobramentos desta verdade estão em todos os lugares do mundo. Deus continua se revelando. Plenitude não significa filnalização. O que sabemos do Cristo é processual. É assim que o Espírito Santo trabalha na vida da Igreja. A Teologia está a caminho. A grandeza da Revelação não cabe nos documentos que temos, nem tampouco na Teologia que já sistematizamos. O dogma evolui, pois é verdade santa. Tudo o que é santo, movimenta, porque é vivo. O que alimentou o passado precisa continuar alimentando o presente, e o futuro. Não significa modificar a verdade, mas sim, à luz do Espírito e da autoridade da Igreja, buscar a interpretação que favoreça o conhecimento da verdade que o dogma resguarda. Este exercício eclesial manifesta ao mundo o zelo pela verdade que nos foi confiado cuidar e administrar. Deus continua se revelando ao mundo. O limite da Revelação é a inteligência humana. Nós o vitimamos constantemente com nossas reflexões, mas mesmo assim, Ele não deixa de se manifestar. Onde houver uma brecha, lá Deus acontecerá. Não podemos nos esquecer que a salvação é oferecida a todos. É interesse amoroso de Deus que a humanidade o conheça. Nós, enquanto proprietários desta verdade que é Jesus, cuidamos do que recebemos. O cuidado da verdade recebida está sustentado sobre dois pilares. Anúncio e Reconhecimento. Nós anunciamos o Cristo. Nisso consiste a ação evangelizadora da Igreja. Mas nós também reconhecemos a sua presença, indícios do sagrado, em outras religiões. Como reconhecemos? Através dos frutos que produzem. O amor que temos ao Cristo deve ser suficiente para que saibamos respeitar tudo o que é cristão, mesmo que as pessoas não se reconheçam cristãs. É dialética, meu caro. É a tensão escatológica que também esbarra na hermenêutica cristã. Já, mas ainda não. É neste ainda não que nos abrimos com humildade para compreender que outras religiões também vivem e perseguem os rastros do sagrado, e que mesmo oculto, lá o Cristo já está sendo vivido. É uma questão de tempo. Recordo-me de uma frase muito sábia, que um grande professor jesuíta costumava repetir em nossas aulas de mestrado. Ele dizia: “todo mundo tem o direito de viver o seu antigo testamento.” A administração desta verdade só pode ser responsável, à medida que reconhecemos que ela já ultrapassou os limites dos muros, que estão sob nossa custódia.”
Realmente não detemos, nós simples leigos, a verdade suprema. Cristo é detentor da verdade, mas “onde está Cristo aí também está a Igreja”, portanto, nós estamos próximos dela, estamos na Igreja de Cristo a Santa Igreja Católica, não detemos a verdade, mas estamos mais próximos dela. O padre dá a entender que a revelação se movimenta como se os dogmas pudessem ser modificados “aggiornados”. A revelação continua acontecendo na Igreja chamadas às vezes de revelações particulares como a de Fátima, mas o Espírito Santo não altera o que Cristo já nos revelou, não moderniza para caber nos dias atuais ou futuros. Se o Espírito Santo revela coisas conflitantes com o que já nos foi revelado, será mesmo que o autor dessas revelações é o Espírito Santo? "Caríssimos, não deis fé a qualquer espírito, mas examinai se os espíritos são de Deus, porque muitos falsos profetas se levantaram no mundo". (1Jo 4,1)
Em certo momento, o padre nos fala que há indícios de Cristo em outras religiões simplesmente por essas buscarem o sagrado! Diz que podemos reconhecer pelos seus frutos! Lembrei na hora da passagem "Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinhos e figos dos abrolhos?" (Mt 7,16).
O Padre confia à sua mente, aquela mesma que ele diz ser limitada, a capacidade de reconhecermos a presença de Cristo em outras religiões. Não é perigoso isso? Se nós temos o Magistério da Igreja, para que confiar em nossa limitada mente a busca de Cristo em outras religiões? Por que não trazer essas pessoas de onde existe apenas uma meia verdade para a Religião onde a verdade é plena, onde nos foi revelada?
O documento Mortalium Animos nos alerta para essa busca infrutífera das meias verdades na terra:
“12. A Igreja Católica: depositária infalível da verdade Quando o Filho unigênito de Deus ordenou a seus enviados que ensinassem a todos os povos, vinculou então todos os homens pelo dever de crer nas coisas que lhes fossem anunciadas pela "testemunha pré-ordenadas por Deus" (At. 10,41). Entretanto, um e outro preceito de Cristo, o de ensinar e o de crer na consecução da salvação eterna, que não podem deixar de ser cumpridos, não poderiam ser entendidos a não ser que a Igreja proponha de modo íntegro e claro a doutrina evangélica e que, ao propô-la, seja imune a qualquer perigo de errar. Afastam-se igualmente do caminho os que julgam que o depósito da verdade existe realmente na terra, mas que é necessário um trabalho difícil, com tão longos estudos e disputas para encontrá-lo e possuí-lo que a vida dos homens seja apenas suficiente para isso, com se Deus benigníssimo tivesse falado pelos profetas e pelo seu Unigênito para que apenas uns poucos, e estes mesmos já avançados em idade, aprendessem perfeitamente as coisas que por eles revelou, e não para que preceituasse uma doutrina de fé e de costumes pela qual, em todo o decurso de sua vida mortal, o homem fosse regido.” Ele faz uma afirmação da qual os documentos da Igreja condenam veementemente “A administração desta verdade só pode ser responsável, à medida que reconhecemos que ela já ultrapassou os limites dos muros, que estão sob nossa custódia.” Isso renega totalmente o documento acima citado, quem quiser pode buscá-lo no site do Vaticano.
Que absurdo! A verdade plena da Igreja pulou o muro? Fugiu?
“E como explicar que, ao falar da condição adâmica do homem, o senhor tenha adotado a interpretação modernista segundo a qual a historicidade das escrituras fica reduzida ao nível das histórias da carochinha?! Dizer que Adão é uma imagem simbólica, metafórica, “fabulesca”, não faz parte da Doutrina Católica! O fato de a linguagem empregada no livro de Gênesis ser recheada de simbolismo não elimina o fato de que os acontecimentos nele narrados tenham se dado no tempo e no espaço tal como foram escritos.
A interpretação literal complementa e enriquece a hermenêutica que se pode fazer a partir dos símbolos. Não é assim que ensina a Igreja?”
Não, não é isso que ensina a Igreja. Se você freqüentasse os meios teológicos saberia muito bem que a linguagem metafórica nem sempre está a serviço de um fato concreto, pontuado no tempo e no espaço. Por isso é metáfora. A linguagem metafórica não é mentirosa. Sou professor universitário e ensinei Antropologia Teológica. É uma clareza que não posso perder de vista. Ao falar da condição adâmica nós precisamos pensar na humanidade como um todo. Não temos a certidão de nascimento de Adão. O que temos é a fé de que Deus criou a humanidade. Não posso pontuar a existência do primeiro homem. A sagrada escritura só que nos ensinar que somos filhos Dele. Gustavo, toda a Antropologia teológica é construída na perspectiva da Cristologia. A narração das origens está diretamente ligada ao evento crístico. A Teologia da Criação não é uma ciência exata. O que precisa ser assegurado é o fato de que Deus é o criador do Universo. A maneira como tudo isso se deu é metáfora. Isso não significa meia verdade, nem tampouco conto da carochinha. O que não pode ser relativizado é a entrada de Jesus na história. Há um destino Crístico que nos foi oferecido (Soteriologia). Jesus é histórico. Está situado no tempo e no espaço. Isso sim é fundamental para a fé. Quando a Sagrada Escritura narra o nascimento do primeiro homem, o grande objetivo não é pontuar o início da vida humana, mesmo porque o escritor sagrado não escrevia com essa finalidade. Volto a dizer. A exegese nos ensina que o escrito tem como principal objetivo salvaguardar que o princípio de todas as realidades criadas está em Deus (Criacionismo). É por isso que a fé não se opõe à ciência no que diz respeito à evolução (Evolucionismo). É simples. O primeiro homem criado não pode ter tido a experiência que a sagrada escritura relata. Ou você pode desconsiderar tod os os conhecimentos a respeito da origem do ser humano? Gustavo, a fé não é um conjunto de certezas, meu caro. Não temos provas concretas para muitos aspectos da fé que professamos. Se as tivéssemos não precisaríamos ter fé. Acreditamos no que não vemos. Nem por isso é “conto da carochinha”, como você sugere. Não sei se você a conhece, mas se não conhecer, sugiro que tenha contato com a obra do americano Joseph Campbell, que de maneira brilhante e pertinente, fez uma análise da linguagem mitológica nas culturas. Na primeira parte da obra “O poder do mito”, ele fala justamente deste grande equívoco que costuma ser muito comum entre as pessoas que não transcendem a linguagem. Campbell é uma das maiores autoridades no campo da mitologia, pois faz uma abordagem semiótica destas narrações. O mito não é uma mentira, mas também não precisa ser verdade, diz ele. O importante é a fé que ele sugere. O importante é reconhecer que ele está a serviço de uma verdade superior, porque não cabe no tempo. Foi mais ou menos isso que desejou Guimarães Rosa, ao escrever o conto “ A terceira margem do rio”. Onde fica a terceira margem? O mesmo não se dá com as nossas convicções religiosas? O discurso religioso é o discurso da terceira margem. Guimarães Rosa compreendeu bem esta linguagem. E nós precisamos compreendê-la também.
Infelizmente a verdade do Catecismo está sendo substituída pela teologia ensinada nos seminários modernistas. As atitudes do padre beiram as protestantes quando diz que Adão não tem certidão. É como pedir que se prove biblicamente a existência de Adão com certidão de nascimento. Cuidado padre, os protestantes estão sempre a procura de certidões na Bíblia, isto é fundamentalismo Bíblico. Não podemos tentar encaixar o evolucionismo ateu e cheio de falhas ao criacionismo certo e ensinado pela Igreja. O ensinamento da Igreja não é exato? A fé e a ciência sempre estiveram juntas, aliás, a ciência ocidental tal qual conhecemos foi criada e incentivada pela Igreja, mas isso não nos obriga a aceitar o evolucionismo ateu de Darwin. Da mesma maneira que não há certidão material de Adão, não há qualquer prova de elos entre nós e os macacos pré-históricos oferecidos como “nossos ancestrais”, mas a Igreja edificada sobre Pedro nos diz que existiu um Adão e uma Eva. Prefiro crer na Igreja milenar a crer na ciência sem Deus e sem provas.
“Depois o senhor falou que durante muito tempo “nós (subentenda-se: Igreja) fomos omissos”. Parece-me que essa omissão se referia às questões ecológicas. Pelo amor de Deus, padre! A missão da Igreja é salvar a Amazônia ou salvar as almas? Que conversa é essa de “cristificação do universo ”? Por que dar atenção a isso quando tantas almas se perdem na imoralidade, na heresia, na inércia espiritual?”
Gustavo, sua visão soteriológica é muito estreita. Salvar almas, somente? Essa visão compartimentada do ser humano é herética. Precisamos salvar a totalidade do humano, meu caro. Esqueceu o postulado fundamental da Antropologia cristã? Somos corpo e alma. Unidade. É só ler Tomás de Aquino, Santo Agostinho. Fazer uma pregação desencarnada? A alma que quero salvar tem corpo, sente frio, tem fome, medo. A alma que quero salvar está num corpo que morre antes da hora, porque sofre as conseqüências de um meio ambiente marcado pelo pecado da omissão. Se você fala da inércia espiritual, a Igreja fala da inércia espiritual e corporal. Cuidar do mundo é dar continuidade ao milagre da criação. Somos “co-criadores”. Deus continua criando, e nós correspondemos com a experiência do cuidado. Criar é atributo divino, mas cuidar é atributo humano. A horizontalidade da fé é real, concreta. Isso é Teologia da Criação. Está nos livros fundamentais, no catecismo da Igreja e também nos ensaios teológicos mais arrojados. Quanto à essa conversa de “Cristificação do universo”, que você pareceu banalizar, fazer menor, é apenas uma interpretação belíssima da presença de Cristo no mundo, tomando posse de todos os lugares, mediante o movimento sacramental que Igreja celebra e propaga. Todos os sacramentos que a Igreja celebra nos cristificam. O nosso comprometimento com o Cristo, mediante o processo de conversão, nos cristifica. O gesto de caridade nos cristifica. A oração nos cristifica. Ser cristão é ao Cristo estar configurado. É boba essa conversa?
“Salvar almas apenas” é heresia? Agora se tornou herético querer apenas salvar almas? Onde a Igreja diz isso? É óbvio que a caridade e o socorro aos pobres e doentes é nossa obrigação, que não fazer isso é omissão. Mas há grande diferença entre pecado e heresia, assim como entre socorrer na caridade e socorrer no materialismo. O socorro materialista do MST, por exemplo, onde se rouba de um para dar ao outro é muito diferente do socorro do CARITAS internacional ou das obras assistenciais dos Irmãos e Irmãs de Caridade. São Tomás de Aquino e Santo Agostinho jamais substituíram, ou melhor, colocaram a proteção material acima da proteção da alma. Devemos cuidar do corpo, mas não ao ponto de correr o risco de perder a alma. A mãe do padre afirmou ao Fantástico que ele é e sempre foi muito vaidoso. Se ele não sabe, a vaidade é um pecado capital segundo São Tomás de Aquino. Ele cobrou a leitura de São Tomás de Aquino do Gustavo, mas parece não conhecer os Pecados Capitais segundo São Tomás de Aquino.
“Em seguida, veio aquela colocação, esdrúxula e totalmente non sense, de que a Igreja – que se considerava barca de Pedro – após o Concílio Vaticano II passou a se enxergar como Povo de Deus. Devo informar-lhe que a Igreja permanece sendo barca de Pedro, e o povo de Deus é – por assim dizer – a tripulação desta barca. Onde é que houve mudança na compreensão da eclesiologia”?
A colocação esdrúxula não tem outro objetivo senão ensinar a busca que a Igreja tem feito de ser “Católica”. Você bem sabe que o significado de ser católica é ser “universal”. A expressão “barca de Pedro” não foi banida, Gustavo. Eu falei de superação conceitual. O problema não é a expressão, mas a interpretação que podemos fazer dela. É uma questão hermenêutica. A expressão “Povo de Deus” sugere a universalidade que a Igreja quer e precisa ter. O concílio Vaticano II compreendeu assim. É orientação da Igreja. Eu não inventei isso. Toda essa aversão que você tem ao Ecumenismo expõe uma fragilidade na sua reflexão. Não é bla, bla, bla, como você costu ma dizer. A Igreja trata com muito cuidado esta questão, pois sabe que as questões religiosas estão sendo causas de muito conflito no mundo. Banalizar a dimensão ecumênica da Igreja é, no mínimo, irresponsável. Há uma vasta literatura na área da Eclesiologia refletindo sobre esse tema. Sugiro que você a conheça. Só vai lhe enriquecer. Meu filho, o importante é a gente não esquecer, que mesmo estando na barca de Pedro, é sempre cordial e cristão, acenarmos com carinho e respeito aos que estão em barcas diferentes. As grandes guerras atuais são movidas por essa incapacidade de aceno.
O padre tentou desmerecer a capacidade ecumênica do Gustavo. Devemos lembrar que ecumenismo deveria ser a capacidade de evangelizar e converter os não Católicos e que qualquer atitude em contrário deve ser evitada pelos Católicos.
Novamente coloco trecho do Mortalium Animos de Pio XI.
“10. A Igreja Católica não pode participar de semelhantes reuniões Assim sendo, é manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum, participar de suas assembléias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para estas iniciativas: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo.”
O Assunto é realmente delicado, mas isso não deve ser motivo para esconder a verdadeira religião. Isso sim é banalizar a dimensão ecumênica da Igreja, e pior, banalizar/relativizar a verdade. A culpa das guerras não deve ser jogada na religião. Existem guerras por poder, por territórios, por riquezas, etc. O Papa Urbano II pode ser acusado de insuflar guerras quando proclama as cruzadas? De modo algum. Ele pretendia a defesa dos lugares Santos e das pessoas contra as invasões islâmicas e a pedido da Igreja Ortodoxa. O padre Fábio condena a atitude do Papa? Será que ele queria que o Papa Urbano II fosse até a região de conflito acenar para os mouros? Acenar para os não católicos, não significa ser omisso no ensinamento da verdade. Se meu filho não faz a tarefa e se recusa a me ouvir eu apenas vou acariciá-lo para evitar conflito doméstico?
“Entre as críticas feitas pelos blogueiros, salientava-se a sua posição – no mínimo, omissa – quando o apresentador Jô Soares comentou que achava um absurdo que a Igreja considerasse que o matrimônio servia apenas à procriação. Pergunto: por que o senhor não afirmou, como ensina a Igreja, que o matrimônio tem duas finalidades: a unitiva e a procriativa? Por que não disse que , sim, o amor dos esposos importa e ele é – ou, pelo menos, deve ser – expresso pela unidade (de pensamento e de vontade) que os cônjuges demonstram em todas e cada uma de suas ações? Era tão simples desfazer a argumentação errônea do entrevistador e, ao mesmo tempo, aproveitar para instruir as pessoas segundo a Sã Doutrina!”
Concordo com você. Eu errei ao não ter usado os termos técnicos. Quis levar a discussão através de outros recursos e acabei não sendo claro como deveria.
A atitude não se limita apenas a “termos técnicos”, mas sim que ele perdeu uma ótima oportunidade de evangelizar em favor da família... ”
Pior que não ter ensinado no momento oportuno, foi o senhor afirmar que “o nosso discurso já mudou”! Diga-me, Pe. Fábio, acaso a doutrina imutável da Igreja perdeu a sua imutabilidade? O senhor crê, convictamente, que a Igreja está, dia após dia, se amoldando à mentalidade atual? Não seria missão da Esposa de Cristo formar na sociedade uma mentalidade cristã, isto é, fomentar um novo modo de pensar e de viver que esteja impregnado do perfume de Cristo? Ou é o contrário: o mundo é que deve catequizar a Igreja?”
Não, não é a Igreja que precisa ser moldada aos formatos do mundo. Em nenhum momento alguém me viu pregar sobre isso. Quando eu disse que o discurso já mudou, eu me referia justamente à visão antiga que ele tinha do “sexo no casamento”. O apresentador desconhecia a reflexão a dimensão unitiva do sexo na vida do casal.
...
“Em outro momento da entrevista o senhor afirmou que não “conseguia” celebrar a missa todos os dias? Não lhe parece estranho, e prejudicial, que a sua “agenda” não permita que o senhor celebre todos os dias a Eucaristia? Qual deve ser o centro da vida do sacerdote: o altar ou o palco? E quanto ao breviário? A sua “agenda” permite que o senhor o reze diariamente (considerando que não fazê-lo é pecado grave para o sacerdote)?”
Gustavo, quanto ao zelo que tenho pela minha vida de padre, gostaria de lhe tranqüilizar. Não sou um aventureiro. Sou um homem responsável, e se tem uma coisa que não perco de vista é a maturidade humana. Se me conhecesse, talvez não incorreria no julgamento velado de suas palavras. Deus conhece a vida que tenho, e conhece também minha dedicação aos seus projetos. Se você gosta de quantificar o que faz, este não é o meu caso. Eu sou filho do Novo Testamento. Jesus é o Senhor da minha vida. Com Ele eu aprendi que a salvação não está na obrigação dos ritos, mas na qualidade do coração que temos. Busco cumprir todas as obrigações que a Igreja me pede, mas não coloco nisso a certeza da minha salvação. Não sou rubricista, nem pretendo me tornar. A Igreja nos recomenda muitas coisas. Lutamos para cumprir tudo. O que não conseguimos, deixamos nas mãos de Deus. Só Ele poderá nos julgar.
O Santo Padre dirigiu recentemente carta aos sacerdotes pedindo para que se dediquem mais ao sacerdócio não dividindo sua vida com mundanismo. Não há obrigação dos ritos? Quer dizer então que a disciplina também foi abolida da vida dos novos padres?
“Depois veio a pergunta: “o senhor teve experiências sexuais antes de ser padre?” Creio um homem que consagrou (frise-se o termo: consagrou) sua sexualidade a Deus não deveria expor sua intimidade diante do público. Mas, já que a pergunta indecorosa foi feita, a resposta que esperei foi algo no sentido de fazer o interlocutor entender que aquela questão era de ordem privada; que não convinha ser tratada em público. Em resumo: algo como “não é da sua conta!”. Porém, que fez o senhor? Respondeu que teve, sim, experiências sexuais precedentes, mas “às escondidas”! Caro Pe. Fábio, o senhor acha que convém dar uma resposta deste tipo? Isso não induziria as pessoas a pensar que não existem padres castos (considerando que muitos confundem castidade com virgindade)? Isso não estimularia as pessoas a crer na falácia segundo a qual todo jovem já teve, tem ou deve ter experiências sexuais que precedam a sua decisão vocacional?”
Gustavo, a vida é o testemunho que temos. Não tenho dificuldade alguma de responder às perguntas que me expõem como homem. Não fiquei padre por acaso. Tenho uma história e dela não fujo. São Paulo não fez o mesmo? Leia as cartas que ele escreveu. Ele sempre fez referência à vida vivida. Em nenhum momento se esquivou de contar sua história, mas fez dela um instrumental para orientar e sugerir vida nova em Cristo. Não gosto da expressão “não é da sua conta”. Se eu me disponho a ser entrevistado por alguém, tenho que saber que a minha vida será a pauta. Só não admitiria o desrespeito, mas isso não ocorreu. Não vou mentir para o povo. Nas minhas pregações eu falo o tempo todo da minha vida. Não quero bancar o santo. Eu quero é ser santo.
Condordo que a vida anterior ao sacerdócio ocorreu e que não pode ser mudada, mas não deveria haver uma instrução do padre para os jovens sobre castidade, namoro e casamento? Novamente o padre perdeu outra ótima oportunidade de defender a moral e a família.
“O senhor comentou, ainda, que “para a gente ser padre, a gente tem que ter amado na vida. É impossível (grifos meus) fazer uma opção pelo celibato, pela vida consagrada, se eu não tiver tido uma experiência de amar alguém de verdade”. O senhor acha, realmente, que o homem que nunca amou uma mulher não sabe amar? Baseado em que o senhor diz isso? Que dizer então do meu pároco que, tendo ido para o seminário aos 11 anos, nunca namorou? Ele é menos feliz por causa disso? Menos decidido pelo sacerdócio? Não creio que isso proceda.”
Digo baseado no fato de ser padre, conviver com padres, morar em seminários desde os 16 anos de idade, ser diretor espiritual de inúmeros seminaristas, padres e freiras. Digo isso porque vivo os bastidores da Igreja. Sou amigo pessoal de muitos bispos, religiosos, diretores de seminários. Tenho 38 anos e sou profundamente interessado pela vida sacerdotal. A minha experiência, e a de tantos que passaram pela minha vida, mostraram-me que o celibato é ESCOLHA. Para haver escolha é preciso que haja possibilidades. Quanto à felicidade de seu pároco, sobre ela não posso dizer, pois não o conheço. Minha fala é fruto do que a vida me mostrou, e só.
Celibato é escolha no seguinte caso. Você não consegue viver uma vida celibatária, então neste caso é melhor se casar. "Aos solteiros e às viúvas, digo que lhes é bom se permanecerem assim, como eu. Mas, se não podem guardar a continência, casem-se. É melhor casar do que abrasar-se". (1Cor 7,8-9) Sexo somente após o casamento, caso contrário deve ser celibatário (leigos solteiros, sacerdotes). É preciso cheirar cocaína para saber que vicia e é tóxica?
“O que se viu nessa malfadada entrevista à rede globo foi a apresentação de um comunicador, um cantor, um filósofo, um homem qualquer. Pudemos enxergar Fábio de Melo. E só. O padre passou desapercebidamente. De comunicadores, cantores e filósofos, já basta: nós os temos em número suficiente! Precisamos de padr es! Padres que são, sim, homens por natureza; mas que tiveram sua dignidade elevada pelo caráter impresso no sacramento da Ordem. Homens que não são “como quaisquer outros” porque receberam a graça e a missão de agir in persona Christi. Temos carência de ver padres que ajam, falem e – até mesmo – se vistam, em conformidade com a sua dignidade sacerdotal.”
Gustavo, se os seus olhos me enxergaram como um “homem qualquer”,perdoe-me. Talvez eu não tenha conseguido revelar a você a sacralidade que move os meus objetivos. Talvez você esteja elevado demais em sua vida espiritual, e necessite de padres mais espiritualizados, menos humanos. Tenho consciência que ninguém precisa ser unanimidade. O que sei é que na Igreja de Cristo há um lugar para um padre com o meu perfil. Eu vejo a obra que Deus tem realizado na minha vida e na vida de tantas pessoas que se identificam com meu trabalho. Meu filho, eu tenho encontrado pela vida as dores do mundo, e com elas tenho me ocupado. Demorei responder a sua carta justamente por isso. Tenho gastado o meu sangue nesta proeza de ser e agir “ in persona Christi”. Não tenho outro objetivo senão tentar atualizar a presença de Jesus na vida das pessoas. Eu o faço como posso. Evangelizo a partir da teologia que amo, mas também a partir da experiência que me guia. Conheci a Deus através do amor ágape. Fiquei fascinado quando me ensinaram que Deus é um pai amoroso que não despreza os filhos que tem, mesmo quando não correspondem ao que Ele espera. O banquete em sua casa está sempre posto, pronto para receber o filho que tem fome. Adentrei a morada de Deus assim, na condição de homem qualquer, mas o surpreendente é que Ele não me recebeu como homem qualquer. Recebeu-me com festa, com carinho, com misericórdia, pois é capaz de me enxergar para além de minha aparência. É isso que tenho feito, meu caro. Tenho me esmerado para convencer as pessoas de que o mesmo pode acontecer com elas. Quanto à minha dignidade sacerdotal, esta eu costumo preservar através das minhas atitudes. Minha roupa de padre não me garante muita coisa. O sacerdócio que o povo espera de mim não está no hábito que ostento, mas na sinceridade que preciso ter diante do meu compromisso assumido. Zelo para que Deus não seja transformado numa caricatura qualquer.
A partir desse trecho, o texto do padre se torna muito emocional e pouco racional. Há deboche do padre em relação à espiritualidade do Gustavo. Vou comentar dois pontos.
1º Deus acolhe a todos, desde que vivam conforme as instruções divinas. Aquele que despreza o ensinamento de Deus será castigado. Se não houvesse castigo, onde estaria a justiça divina?
2º O Hábito é o que diferencia um sacerdote de um leigo visualmente falando. Se o sacerdote se veste, fala, age como leigo, onde buscarei exemplos para minha vida? Esse modo de querer ser igual ao discípulo é anticristão, Freire com seu ensino modernoso destruiu a posição Professor/aluno nas escolas criando “iguais”. O mesmo ocorreu com os sacerdotes, o contrário deveria ser regra, o discípulo querer se igualar ao mestre.
“Creio que muitos destes desdobramentos que eu estou expondo não foram sequer imaginados pelo senhor no momento em que concedeu a entrevista, e enquanto respondia às perguntas. Contudo, o ônus de quem se expõe à opinião pública é, exatamente, suportar os possíveis mal-entendidos que se geram quando as palavras são compreendidas de modo diverso da intenção e da mentalidade de quem as proferiu. Espero que tudo que eu falei aqui tenha sido realmente um grande mal-entendido… Sempre cabe, contudo, esclarecer os desentendimentos mais graves que possam prejudicar não só a sua imagem, mas a da Igreja como um todo. Um ensino errado pode levar uma alma à perdição.”
Querido Gustavo, como professor de Hermenêutica eu não tenho dificuldade com os que pensam diferente de mim. Não é nenhum crime termos diferenças. O problema é quando nós fazemos da diferença um motivo de pré julgamento e acusação.
Um padre despreparado para uma entrevista em um programa banal, onde é sabido que o apresentador debocha e menospreza com arrogância seus entrevistados e comportamentos morais que não lhe agradam, com certeza será repudiado e criticado. Não responder alguém com a verdade por prudência mundana e “aceitar as diferenças” mesmo que não sejam compatíveis com a Igreja é omissão.
“Perdoe-me, sinceramente, a franqueza e, talvez, a dureza em alguns momentos. Mas eu precisava lhe expor as minhas dúvidas, impressões e inquietudes com relação a essa entrevista. Se o senhor se dignar me responder esta carta, ainda que de modo breve, sucinto, ficaria imensamente grato. Despeço-me rogando mais uma vez a sua bênção e garantindo-lhe as minhas orações em favor de seu sacerdócio e de sua alma.
Gustavo Souza, Indigno filho da Santa Igreja Católica”
Perdôo, é claro que perdôo, afinal, este o meu ofício. Como padre eu sou ministro da reconciliação. Confesso que a ira de seus seguidores, blogueiros que acompanham os seus escritos, me feriu muito mais que suas indignações. E é sobre isso gostaria de dizer, ao final desta resposta. Não sei quem é você. Vi a sua foto, aquela em que você diz estar embriagado de Coca Cola, e nada mais. O pouco que sei de você está revelado nos textos do seu blog. Tenho acompanhado seus constantes combates, esforços para diminuir as heresias e afrontas à Igreja. Admiro o seu zelo. Ele expressa o amor que você tem a Deus. Mas confesso que sinto falta de “misericórdia” em suas falas, meu caro. Gustavo, não faça do seu amor à Igreja um obstáculo ao seu amor pelos mais fracos, pelos diferentes. Defenda tudo o que quiser defender, mas não permita que o seu discurso seja causa de contenda e inimizades. Há sempre um jeito de discordar sem precisar ofender. A ofensa faz crescer o que é diabólico. Cuidado com as generalizações. Você tem combatido as CEBS. Cuidado. Há muita gente honesta nestes movimentos. Eu as conheço. Vi de perto o trabalho frutuoso, espiritual, humano, salvação total acontecendo em muitos lugares deste grande Brasil. Vi nomes sendo citados de forma banal, irresponsável. Irmã Doroty morreu defendendo o evangelho, meu filho. Gostando você, ou não, ela é foi uma mulher comprometida com as causas de Jesus. É muito triste ver o nome dela citado no seu espaço, como se fosse uma “mulher qualquer”. Chico Mendes foi um homem que defendeu questões nobres. Só por isso já merece o nosso respeito. Frei Beto é um homem fabuloso. Já fez muita gente se aproximar de Deus, por meio de sua inteligência e sabedoria aguçada. Não limite o seu blog a um lugar de combates. Que seja um lugar de discussões, mas que sejam feitas à luz do princípio fundamental que o evangelho nos sugere: o amor ágape. Gustavo, aproxime-se cada vez mais do Coração de Jesus. Ele é a interpretação da verdade que tanto buscamos compreender. Deus está inteiro em Jesus. O grande desafio da conversão é aproximar a nossa humanidade de sua divindade. Do Adão que há em nós ao Cristo que nos foi oferecido. Mesmo estando em estágios diferentes, uns mais à frente, outros mais atrasados, não importa. O importante é que saibamos ir juntos. Nossa salvação depende disso. Uma coisa é certa, meu caro. Todos nós estamos desejosos de acertar. Sigamos juntos nesta busca. Com meu carinho e benção,
Pe. Fabio de melo.
Essa última parte revelou escancaradamente a posição em acordo com a Teologia da Libertação do Padre Fábio de Melo. Irmã Doroty morreu infelizmente por questões políticas. Tomou partido numa briga e ao invés de agir como Nosso Senhor tentando apaziguar os dois lados levando o evangelho até eles, preferiu lutar nas regras do mundo se posicionando de um dos lados. A intenção dela era acabar com o sofrimento dos oprimidos, mas usou o discurso marxista para tentar isso ao invés do evangelho. A morte dela resolveu algo? Não.
Chico Mendes era leigo, estava fazendo o que tinha ao alcance de suas mãos, mas não tinha força política, e assim como a Irmã Doroty preferiu usar os meios marxistas.
Frei Betto Fabuloso? A arrogância com que esse frei sempre se dirigiu ao Papa João Paulo II e agora ao Papa Bento XVI diz o contrário. Em 1997 Frei Betto escreveu carta ofensiva e desrespeitosa ao Papa João Paulo II na qual defende o casamento gay, ordenação de mulheres, fim do celibato, despreza os títulos de tratamento ao Santo Padre, etc. Frei Betto também defende o regime ditador de Fidel Castro com “El Paredon” e tudo o mais, também não perde oportunidade de ofender o Papa Bento XVI. É esse o tipo de exemplo que o Padre Fábio segue?
Fonte: blog "Erguei-vos Senhor"

2 comentários:

  1. Muito brilhante e oportuna a resposta do Pe. Fabio de Mello. Precisamos ser católicos fundamendados e não fundamentalistas. É possível trazer o evangelho para os dias de hoje,sem corrompê - lo. E ter unidade na diversidade.

    Salve Maria !!!


    Joao Francisco

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  2. Caro João

    Seria realmente brilhante essa resposta se não soubéssemos da tendência do Fábio de modificar a bel prazer a doutrina Católica distorcendo e deturpando a São Doutrina da salvação.

    Na verdade está havendo uma inversão de valores no comentário do Fábio, pois não é o evangelho que tem que "ser trazido aos dias de hoje" e sim os dias de hoje que devem ser levados até o evangelho.

    Ps. Chamei propositalmente o "padre" Fábio de Fábio, pois é assim que ele prefere ser chamado! Em seu livro com o herege Chalita ele assina apenas Fábio e no programa da Marília Gabi ele disse que deveria ser chamado apenas Fábio. Alguém que despreza dessa forma o sacerdócio preferindo ser chamado apenas pelo seu nome não pode gerar mais que escândalos mesmo.

    Pax et bonum

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